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Cronómetro marítimo de Robert Gardner que acompanhou Ernest Shackleton de 1907 a 1909.


Robert Gardner nº 5/4186 @ Bonhams


Filho de Robert Gardner, um grossista de componentes relojoeiros, Robert Gardner nasceu em Glasgow em 1851, cidade onde deu os primeiros passos como aprendiz de um relojoeiro. Mais tarde, em 1871 e já com 20 anos, entraria ao serviço de um relojoeiro de Londres, Troy Thomas. Em 1875, morre o pai de Gardner e o negócio passa para Robert e o seu irmão John, originando o seu regresso de Londres para administrar os negócios da família. A sociedade com o irmão não viria a durar muito, e em 1878 Robert abre a sua própria relojoaria em Glasgow. Aparentemente, nesse período o relojoeiro viajava bastante, tanto para o continente quanto para os Estados Unidos, com o objectivo de contactar com novas técnicas e metodologias relojoeiras. Em 1880, um grupo de amigos armadores de Glasgow contrataram-no para ir a Londres para comprar alguns cronómetros para os seus navios. Após o seu regresso, Gardner parece ter ficado obcecado por cronómetros e, em 1885, estava novamente a morar em Londres, casando-se nesse mesmo ano com A--, que era 11 anos mais jovem. Em 1886 estabelece a sua oficina na sua própria casa em 20 Lloyd Square, Clerkenwell Road, e é nesta localização que muda gradualmente para a construção de cronómetros marítimos, adquirindo inicialmente cronómetros Kullberg já terminados e, de seguida, usando o stock adquirido a James Nelson, que nessa altura se tinha reformado e mudado para a Nova Zelândia.


Cartão de visita de Robert Gardner @ colecção Carlos Torres

Eventualmente, Gardner começou a fazer os seus próprios modelos, com um dos seus cronómetros a conquistar o primeiro lugar nas Provas de Greenwich de 1897/98. O seu filho, Malcolm, tinha nascido no ano anterior, em 1896. Assim que começou a fazer os seus próprios cronómetros, Gardner tornou-se cada vez mais focado em fazer um cronómetro equilibrado com a combinação ideal de componentes que garantissem um excelente isocronismo. Isto incluía encaixar duas e três espirais numa só, e também rodas de balanços compensadas por mercúrio com o intuito de colmatar o erro da temperatura média. Estes balanços basearam-se no trabalho de Le Roy e de E. T. Loseby; resumindo, recipientes em vidro cheios de mercúrio feitos sob medida eram construídos em forma de gancho e presos a um balanço parcial com aro de metal. De acordo com Loseby, este género de construção eliminou o erro de temperatura intermedia, e os cronómetros equipados com esses balanços de mercúrio levaram Loseby a ganhar o primeiro lugar nos testes de Greenwich ao longo de cinco anos consecutivos.


Curiosamente, Gardner terminou vários dos cronómetros de Loseby após a morte deste último, incluindo dois que foram dados aos herdeiros de Loseby. Supostamente, Gardner tinha contratos para fornecer cronómetros aos governos italiano, holandês e tailandês, e continuou a enviar cronómetros para Greenwich até ao inicio da Primeira Guerra Mundial. Era tambem frequente Gardner contribuir com artigos técnicos para o Horological Journal, sobre vários aspectos da função e construção de cronómetros.


Charles Édouard Guillaume @ Wikipedia



Por volta de 1901, Gardner viajou para Fleurier, na Suíça, para se encontrar com Charles Edouard Guillaume, já então conhecido pela invenção das ligas 'Invar' e 'Elinvar'. Gardner negociou com sucesso um contrato com Guillaume, onde se garantia que se tornaria o único fornecedor dos ‘balanços de Guillaume' nos territórios do Reino Unido e da Irlanda. O contrato especificava que os balanços deveriam ser vendidos por não menos que £ 2 e apenas deveriam ser usados em cronómetros vendidos por não menos que £ 25. Infelizmente, o contrato foi posteriormente cancelado por mútuo acordo, uma vez que as frequentes viagens de Gardner ao exterior e o extenso trabalho em casa viriam a culminar num colapso nervoso.



Gardner continuou a trabalhar nos seus cronómetros e na busca pela eliminação do 'erro de temperatura média', transferindo a sua oficina para o terceiro andar da casa quando a sua visão começou a se deteriorar. Até à sua morte, em 1931, Gardner trabalhou activamente no aperfeiçoamento dos cronómetros, particularmente no que respeita às espirais de paládio e aos balanços com corte de cinco barras. No seu obituário, um relojoeiro seu colaborador escreveu que 'o que ele não sabia sobre cronómetros não valia a pena saber, mas ao mesmo tempo estava sempre de olhos e ouvidos abertos a novas ideias'. A sua mulher viria a morreu em 1943. Após a morte do seu pai, Malcolm Gardner, sob os auspícios de Courtenay Ilbert, montou um negócio de venda de livros de relojoaria para escoar a sua extensa colecção. Malcolm tornou-se rapidamente conhecido no mundo da relojoaria, vindo a falecer, mais tarde, em 1960. A maioria dos livros que vendeu acabaram na Biblioteca do British Horological Institute.

Robert Gardner nº 5/4186 @ Bonhams

O actual cronómetro, nº 5/4186 produzido por Robert Gardner, teve uma vida de serviço bastante diversificada. A peça seria adquirida pelo Almirantado em março de 1899 por £44. Menos de um ano depois seria usada num navio com destino a Sydney, onde passaria mais de um ano a bordo. No seu regresso, seria alvo de manutenção por parte da Usher & Cole; a razão de Gardner não o ter feito ele próprio é desconhecida. Possivelmente estaria demasiado ocupado com a construção de cronómetros e com viagens de cariz comercial para se preocupar muito com esse trabalho.


O navio Nimrod de Ernest Shackleton @ coolantartica.com


Em 1903, o cronómetro foi usado pelo HMS Merlin, na viagem inaugural do navio para a Austrália, e como parte do Royal Navy Survey Service. O cronómetro foi recolhido um ano depois em Bombaim. Depois de outro serviço de manutenção na Usher & Cole, o cronómetro seria usado em 1907 a bordo do Nimrod como parte da expedição antártica de Ernest Shackleton em 1907 para alcançar o Pólo Sul. A equipa, liderada por Shackleton, chegou a 97 milhas do pólo magnético, antes de ser forçada a voltar para trás devido ao mau tempo. A expedição foi também a primeira a escalar o Monte Erebus, o vulcão mais a sul do globo. Uma descrição da expedição, escrita por Shackleton, observa que Jameson Boyd Adams, o Comandante da Reserva da Marinha Real e o primeiro a se voluntariar para a expedição tinha a seu cargo o bom estado destes instrumentos: 'todas as manhãs, logo após o pequeno almoço, dava corda aos cronómetros e avaliava os instrumentos'. Para além da presente peça desconhece-se actualmente que cronómetros eram esses.



Sir Ernest Shackleton @ coolantartica.com

Em 1909, o cronómetro seria devolvido ao almirantado e novamente reparado pela Usher & Cole. Em 1915, seria instalado no HMS M19, um navio monitor aparentemente estacionado perto da Turquia durante a Primeira Guerra Mundial. Logo após a instalação do cronómetro, a explosão a bordo de um canhão de 9,2”, causa uma morte e vários feridos. O navio seria transformado num navio petroleiro. Já o cronómetro, seria devolvido ao almirantado em 1917, sendo transferido de seguida para os escritórios desta instituição na Índia em 1920.

Os movimentos do cronómetro após esta data são desconhecidos.


Descrição

Um movimento de cronómetro marítimo de dois dias do final do século XIX, muito raro e historicamente interessante, que participou da expedição Nimrod de Ernest Shackleton de julho de 1907 a setembro de 1909. Actualmente montado numa caixa de mogno como peça de prateleira.


R. Gardner, 20 Lloyd Square, Londres W.C. Marcado com a seta do Almirantado e 'I 1920', nº 5/4186


O mostrador assinado com numeração romana prateada de 3,75 polegadas com faixa externa de minutos e indicador de reserva de marcha subsidiário de 0 a 56 horas na posição das XII, o mostrador de segundos estilo observatório em VI emoldura a seta do Almirantado e os números 1/1920 e 5/4186, assinado ao centro "R. Gardner 20 Lloyd Square Londres. W. C.”.


O movimento de platina cheia manchada com quatro pilares anelados, fuso e corrente, mola espiral helicoidal em paládio de mola livre (pivot superior partido) com pedra final de diamante e escape tipo Earnshaw, balanço bimetálico cortado e compensado com massas de sincronização circulares, numerado 5 4186. 16cm (6ins) de altura.


Bibliografia


  • Arnott, P. (2013) 'The Mercurial Chronometer Balances of Edward Thomas Loseby', Antiquarian Horology, Vol. 34 (1), pgs. 72-87.

  • Aked, C. K. (1990) 'Robert Gardner: An Addendum', Antiquarian Horology, Vol. 19 (2), pgs. 190-192.

  • British Horological Institute (1932) 'Robert Gardner', The Horological Journal, Vol. 74 (6), pgs. 98-99.

  • British Horological Institute (1944) 'Famous Chronometer Maker's Widow Passes', The Horological Journal, Vol. 86 (8), pg. 219.

  • Aked, C. K. (1990) 'More on Robert Gardner', Antiquarian Horology, Vol. 19 (1), pgs. 71-80.

  • Scott Polar Research Institute (2023) Meet the Pioneers: Jameson Boyd Adams.

  • Antarctic Heritage Trust (2023) History of Shackleton's Expedition: The British

  • Antarctic Expedition 1907-09 Cape Royds.

  • Imperial War Museum (2023) Papers Concerning a Gun Explosion On Board M19, December 1915.

  • Buckey, C., Harley, S., Lovell, A. (2020) H.M.S. Merlin (1901).

  • Australia Navy (2023) HMAS Fantome.


Estes exemplar deverá ser leiloado pela Bonhams no leilão Fine Clocks de Londres tendo uma avaliação compreendida entre 3000 e 5000 libras.


Para mais informações visite a Bonhams aqui.

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