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Relógios Comtoise: Morez e Morbier

Atualizado: há 2 dias


Carlos Manuel Ramos dos Santos - Presidente da Câmara de Sernancelhe a dar corda ao Comtoise da autarquia ©IPR
Carlos Manuel Ramos dos Santos - Presidente da Câmara de Sernancelhe a dar corda ao Comtoise da autarquia ©IPR

O NOME: MOREZ, COMTOISE, MORBIER


Conhecidos em Portugal por relógios Morez, e em frança por Comtoise forma de relógio provincial, accionado por pesos, originalmente fabricado nas imediações de Morbier, na região de Franche-Comté (grafia antiga: Contée), perto da fronteira com a Suíça, desde o final do século XVII até ao início do século XX. Chamam-se Comtoise porque a sua origem remonta à região francesa da Franche-Comté (grafia antiga: Franche Contée), cujo nome significa literalmente “condado livre” — um território que durante séculos teve um estatuto fiscal e administrativo autónomo.

O adjectivo comtois (ou comtoise no feminino) significa precisamente “da Comté”, ou seja, “originário da Franche-Comté”. Assim, horloge comtoise significa literalmente “relógio da Comté”.

HISTÓRIA

Relógio Comtoise da Autarquia de Sernancelhe ©IPR
Relógio Comtoise da Autarquia de Sernancelhe ©IPR

Origens no Século XVII


A génese destes relógios remonta a cerca de 1680, quando os agricultores locais começaram a fabricar relógios durante os meses de inverno. Estes artesãos usavam recursos abundantes na região, como madeira para as estruturas e água para mover as ferramentas. Combinando o saber da serralharia, da fundição e da marcenaria com um engenho notável para a construção de mecanismos de precisão.


A produção era inicialmente doméstica, com cada família especializada numa parte do relógio, rodas dentadas, caixas, mostradores ou pêndulos, o que deu origem a um sistema de produção proto-industrial, descentralizado mas eficaz.


Consolidação no Século XVIII


Durante o século XVIII, a produção de relógios Comtoise espalhou-se por toda a França. O nome “Comtoise” refere-se precisamente à região de Franche-Comté, onde estes relógios foram produzidos em grande número. Em Morbier e Morez surgiram as primeiras oficinas organizadas, com mestres relojoeiros a coordenar o trabalho de dezenas de artesãos.


Os relógios dessa época tinham caixa de madeira simples e mostradores em esmalte branco. O mecanismo incluía sonorização por campainha a cada hora e, frequentemente, uma repetição aos dois minutos.


Explosão no Século XIX


No século XIX, especialmente após a chegada da linha férrea a Morez em 1855, a produção atingiu um novo patamar. A facilidade de transporte permitiu o envio de milhares de relógios para toda a Europa, África do Norte e até para o continente americano.


Nesta fase, as caixas tornaram-se mais ornamentadas, com frisos, painéis pintados e motivos campestres em relevo dourado. Surgiram também variantes com autómatos ou com repetição de minutos.


Entre 1850 e 1915, calcula-se que tenham sido produzidos mais de 300.000 relógios Comtoise, em várias gerações, com diferentes níveis de acabamento e complexidade técnica.


Declínio e Património


Com o advento da relojoaria industrial e da electricidade, a procura por relógios de pêndulo caiu drasticamente. As últimas oficinas fecharam portas nas primeiras décadas do século XX. No entanto, o valor histórico e decorativo dos Comtoise permaneceu, sendo hoje alvo de restauros, estudos e colecções em museus e casas particulares. O relógio Comtoise é um símbolo de identidade regional, engenho popular e memória viva da relojoaria europeia tradicional.

Versões dos Relógios Comtoise


Ao longo de mais de dois séculos de produção contínua, os relógios Comtoise evoluíram tanto no aspecto técnico como estético. Esta evolução permite classificá-los em várias gerações ou estilos, com base na cronologia, na decoração e nos elementos mecânicos. Aqui ficam as principais versões:


Primeira Geração (c. 1680–1750) – Rústica e artesanal


  • Caixa: geralmente de madeira simples, sem grande ornamentação.

  • Mostrador: em esmalte branco ou metal, com números romanos, ponteiros em ferro forjado.

  • Mecanismo: construção robusta, com rodas de grande diâmetro; sonorização simples com campainha.

  • Características: modelos pesados, com cordas e contrapesos longos; escape de roda de reencontro e oscilador de foliot.

  • Raridade: hoje são muito raros e altamente valorizados por colecionadores.


Segunda Geração (c. 1750–1820) – Barroco e decorativo


  • Caixa: começam a surgir elementos decorativos nas colunas laterais e painéis superiores.

  • Mostrador: mais elaborado, frequentemente com cenas pintadas à mão ou decorações florais.

  • Pêndulo: introdução de pêndulos mais longos e decorativos.

  • Mecanismo: melhoria dos sistemas de sonorização e fiabilidade do movimento.

  • Difusão: maior presença em casas burguesas e rurais de prestígio.


Terceira Geração (c. 1820–1850) – Transição industrial


  • Caixa: fabrico mais padronizado, mas ainda com muitos elementos artesanais.

  • Decoração: introdução de frisos de latão; temas religiosos ou militares.

  • Mecanismo: sistemas mais duráveis, com melhoria nos tambores e no sistema de repetição horária.

  • Pêndulo: já com forma de lira ou com símbolos gravados em relevo. Aparecem os primeiros pêndulos com lentilhas estampadas industrialmente, mas ainda com acabamento manual.


Quarta Geração (c. 1850–1915) – Produção em massa e exuberância


  • Caixa: frequentemente ausente, já que o relógio era vendido com o mecanismo e o mostrador prontos a embutir em mobiliário local.

  • Mostrador: muito elaborado, com flores, paisagens, cenas pastorais ou bandeiras (sobretudo após 1870, com o espírito nacionalista pós-guerra franco-prussiana).

  • Pêndulo: peças vistosas, com lentilhas grandes (até 35 cm), douradas ou gravadas.

  • Variedades:

    • Com autómatos (figuras em movimento no topo do mostrador);

    • Com calendário perpétuo;

    • Com repetição sonora a cada 2 minutos;

    • Com dupla sonorização (duas campainhas ou gongos).

  • Distribuição: exportados para todo o mundo, inclusive para Portugal e Espanha.


Pós-1915 – Declínio e fim da produção


  • A relojoaria Comtoise praticamente desaparece com a Primeira Guerra Mundial.

  • Algumas oficinas resistem até meados dos anos 1920, fabricando apenas peças de substituição ou modelos simplificados.

  • O gosto da época vira-se para os relógios de mesa, os carrilhões de coluna e mais tarde os relógios eléctricos e de quartzo.


Variações no Mercado Actual


Hoje, as versões mais comuns no mercado de antiguidades são as da quarta geração, sobretudo os modelos com pêndulo de lira, frisos dourados e decoração em latão repuxado. Os exemplares mais antigos, especialmente da primeira e segunda gerações, são difíceis de encontrar e requerem restauro especializado.

Em Portugal, é frequente encontrarem-se modelos sem caixa original, inseridos em mobiliário adaptado ou suspensos em estruturas próprias — uma prática comum no século XIX.



Design e Estética dos Relógios Comtoise


Para além da sua função prática, os relógios Comtoise também conhecidos como Comtoise ou Morbier foram sempre concebidos como objectos decorativos de grande presença. A sua imponência, variedade ornamental e riqueza simbólica fazem destes relógios peças centrais em muitas casas burguesas e rurais desde o século XVIII até ao início do século XX. Esta secção explora os elementos visuais que definem o seu design.


Mostrador


O mostrador é, em muitos casos, o elemento mais marcante do relógio:

  • Esmaltado branco: com numerais romanos pretos e minuteria externa em algarismos árabes, geralmente com ponteiros azulados em aço forjado ou recortado.

  • Decorações pintadas à mão: a partir do século XIX, surgem paisagens, cenas campestres, motivos religiosos, bandeiras nacionais ou alegorias agrícolas.

  • Formato: redondo, inserido num painel rectangular ou em forma de escudo, muitas vezes com molduras em latão gravado.

  • Assinatura: muitos mostradores trazem a inscrição do relojoeiro e da localidade de fabrico (ex. “Moitessier à Morez”).


Relógio Comtoise da Autarquia de Sernancelhe ©IPR
Relógio Comtoise da Autarquia de Sernancelhe ©IPR

Friso Superior


Situado sobre o mostrador, o friso superior é uma placa de latão com relevo artístico, típica dos modelos das 3.ª e 4.ª gerações:

  • Motivos frequentes:

    • Campestres: ceifeiras, pastores, espigas, animais.

    • Religiosos: cruzes, corações sagrados, imagens de santos.

    • Patrióticos: bandeiras, galos franceses, soldados.

  • Estilo: do neoclássico ao barroco popular, consoante a época.

  • Técnica: o latão é trabalhado em baixo-relevo com martelo e punções, num processo semelhante à cinzelagem.


Pêndulo


O pêndulo é um elemento funcional mas também decorativo:

  • Formato:

    • Simples (primeiras gerações): uma vara metálica com lentilha circular lisa.

    • Lira (época de ouro): estrutura em forma de lira com varas entrelaçadas e detalhes recortados.

  • Lentilha: pode ter entre 25 a 35 cm de diâmetro, em latão polido ou gravado com símbolos (flores, estrelas, cruzes).

  • Decoração: frequentemente combina latão e aço, criando contraste visual e brilho.


Caixa


Nos modelos com caixa (sobretudo das 1.ª, 2.ª e 3.ª gerações), o invólucro em madeira contribui para a presença estética:

  • Madeiras: pinho, carvalho ou nogueira, por vezes com embutidos.

  • Altura: geralmente entre 1,8 m e 2,3 m.

  • Formas: desde caixas rectas e austeras até modelos com base curva, molduras salientes e frisos esculpidos.

  • Adaptações: muitos modelos do séc. XIX foram instalados em móveis portugueses ou espanhóis, adquirindo carácter híbrido.


Elementos decorativos adicionais


  • Autómatos: figuras móveis, como galos que cantam, anjos ou sinos em miniatura.

  • Cores: predominância do dourado (latão) e branco (esmalte), com toques de azul, verde, vermelho e preto.

  • Símbolos: o relógio servia também como reflexo de valores morais, religiosos ou nacionais.


Conjunto visual


Um relógio Comtoise bem conservado impressiona pelo equilíbrio entre engenharia e arte popular: o pêndulo em lira desenha uma linha vertical elegante, o mostrador em esmalte oferece contraste e luminosidade, e o friso superior acrescenta carácter e narrativa visual. Era, e continua a ser, uma peça central da casa quase sempre colocada em posição de destaque.


Funcionamento Mecânico dos Relógios Comtoise


Para além da sua riqueza estética, os relógios Comtoise são notáveis pela robustez e engenho técnico do seu mecanismo. Criados para durar séculos com manutenção mínima, combinam simplicidade construtiva com fiabilidade. Esta secção descreve os principais elementos do seu funcionamento.


Arquitectura Geral


O movimento dos relógios Comtoise é geralmente composto por duas partes principais, que funcionam de forma independente:

  • Rodagens do relógio (à esquerda): responsável pela medição e marcação do tempo.

  • Rodagem dos toques (à direita): activa a campainha nas horas (e, por vezes, também nas meias-horas ou com repetição).

Ambos os sistemas de rodagens são movidos por pesos suspensos por cordas ou correntes, cuja gravidade fornece a energia necessária.


Escape e Oscilador


  • Escape de âncora: os modelos Comtoise mais antigos usam escapes de verga ou de fuso, mas a maioria dos exemplares do século XIX utiliza escape de âncora, associado a um pêndulo.

  • Pêndulo:

    • Comprimento geralmente entre 1 m e 1,3 m, com variação conforme o modelo.

    • Oscilação lenta e regular, com um período entre 1 e 1,25 segundos por ciclo completo.

    • Lentilha metálica de grande dimensão, muitas vezes decorativa.


Relógio Comtoise do coleccionador José Campos

Sistema de Sonorização


  • Campainha de ferro ou bronze, montada sobre o movimento, soando a cada hora.

  • Martelo accionado por came e alavancas, controlado por uma roda de contagem.

  • Muitos modelos incluem:

    • Repetição de hora: dois minutos após a hora certa, o relógio repete o número de badaladas, útil para ouvir no escuro.

    • Toque das meias-horas: um único toque ou dois, dependendo da versão.


Cordas e Pesos


  • Dois pesos separados:

    • Um acciona as rodagens da marcha (relógio propriamente dito).

    • O outro acciona o sistema de sonorização.

  • Cordas ou correntes de aço enroladas em tambores.

  • Os pesos devem ser elevados manualmente a cada 7 a 8 dias, conferindo autonomia semanal ao relógio.


Relógio Comtoise da Autarquia de Sernancelhe, após manutenção no IPR
Relógio Comtoise da Autarquia de Sernancelhe, após manutenção no IPR

Regulação


  • A regulação da marcha faz-se:

    • Através da alteração o comprimento do pêndulo (desloca-se a lentilha para cima ou para baixo).

    • Ajustando o escape, nos modelos mais antigos.

  • Relógios Comtoise bem regulados podem manter uma precisão de poucos minutos por semana — notável para instrumentos do século XIX.


Particularidades Técnicas


  • Distribuição invertida das rodagens (marcha à esquerda e sonorização à direita), ao contrário da maioria dos relógios europeus da época.

  • Mecanismo modular: os movimentos eram feitos para serem montados e desmontados com facilidade, permitindo reparações rápidas.

  • Ausência de lubrificação excessiva: construídos para funcionarem com pouca manutenção, os materiais usados toleravam bem o atrito.


Simplicidade e Durabilidade


A filosofia técnica dos relojoeiros do Jura era clara: fazer relógios “bons, simples e duradouros”. Daí o uso de rodas de grande diâmetro, baixos níveis de fricção, e mecanismos dimensionados com folgas generosas, o que permitia um funcionamento fiável mesmo com desgaste.



RESTAURO E CONSERVAÇÃO DOS RELÓGIOS COMTOISE NO IPR


Com mais de dois séculos de história, os relógios Comtoise sobreviventes exigem cuidados específicos para garantir a sua longevidade e autenticidade. Muitos exemplares encontram-se em bom estado de funcionamento graças à robustez do seu mecanismo, mas outros necessitam de intervenções criteriosas, tanto a nível técnico como estético. Esta secção aborda os principais aspectos do restauro e da conservação destes instrumentos históricos que seguimos criteriosamente no IPR.


Diagnóstico Inicial


Antes de qualquer intervenção, é essencial uma avaliação rigorosa do estado geral do relógio:

  • Verificar se o movimento funciona e se todos os sistemas de rodagens (marcha e sonorização) estão operacionais.

  • Inspecionar pêndulo, pesos, cordas/correntes e rodas dentadas.

  • Avaliar o estado do mostrador, das decorações em latão e das pontes.

  • Confirmar a presença da assinatura (quando existente), datações ou marcas de origem.


Restauro Mecânico


O restauro do movimento deve respeitar o funcionamento original:

  • Desmontagem completa, limpeza e lubrificação com óleos apropriados para relojoaria média.

  • Substituição de cordas ou correntes danificadas.

  • Reparação ou reconstrução de rodas, pivôs ou buchas.

  • Ajuste do escape e regulação do pêndulo.

  • Verificação e afinação do sistema de sonorização (martelo, came, roda de contagem).

  • Evitar modernizações (como movimentos elétricos) que descaracterizem a peça.


Restauro Estético


A vertente visual do relógio requer sensibilidade histórica:

  • Latão batido: pode ser limpo cuidadosamente para remover oxidação, sem polimentos agressivos que retirem a pátina original.

  • Mostrador esmaltado: fissuras e perdas devem ser avaliadas por especialistas; intervenções devem ser mínimas.

  • Pêndulo e lentilha: limpeza com produtos suaves, evitando abrasivos; reconstrução apenas se absolutamente necessário.

  • Frisos e medalhões: restauro de molduras danificadas deve respeitar a técnica original do repuxado.

  • Caixa (quando existente): madeira limpa e tratada com ceras ou óleos naturais; nunca pintada ou envernizada com materiais modernos.


Erros a Evitar


  • Substituição de peças por componentes não originais sem justificação.

  • Pinturas ou dourados modernos sobre elementos antigos.

  • Uso de lubrificantes industriais ou excesso de óleo.

  • Descaracterização estética (como a adição de mostradores modernos ou a remoção dos frisos de latão).


Autenticidade vs Funcionalidade


O equilíbrio entre preservar a autenticidade e recuperar a funcionalidade deve ser ponderado caso a caso. Por vezes, um relógio Comtoise pode conservar um valor patrimonial superior mesmo com sinais de desgaste, do que após um restauro excessivo.


Manutenção Preventiva


Para garantir o bom estado do relógio ao longo do tempo:

  • Limpar regularmente o exterior com pano seco e macio.

  • Evitar exposição directa ao sol, humidade ou variações extremas de temperatura.

  • Subir os pesos com cuidado, evitando impactos bruscos, mas sem dar demasiada folga para evitar que o fio enrole no veio, fora do tambor.

  • Realizar uma revisão mecânica a cada 5–10 anos por um relojoeiro qualificado.


Distribuição e Presença em Portugal


Embora os relógios Comtoise sejam uma criação francesa, a sua presença em Portugal foi significativa a partir do século XIX, sobretudo em zonas urbanas e no meio rural abastado. A sua importação foi favorecida pela ligação ferroviária entre França e a Península Ibérica e pela facilidade de transporte e instalação dos mecanismos.


Principais vias de entrada:


  • Importadores e comerciantes de Lisboa e Porto, que vendiam os relógios com ou sem caixa.

  • Via Espanha: através de Ourense e Salamanca, muitos mecanismos chegaram a Trás-os-Montes e Beiras por via terrestre.

  • Missionários e congregações religiosas, que trouxeram modelos decorativos para casas paroquiais, colégios e conventos.


Locais típicos de instalação:


  • Solares rurais e casas senhoriais: como símbolo de estatuto e modernidade.

  • Sacristias e refeitórios de conventos: pela fiabilidade da sonorização.

  • Farmácias, lojas e cafés: como peça de destaque em ambientes burgueses.

Em alguns casos, o mecanismo francês foi encaixado em mobiliário português, adaptado à estética local. Existem exemplares com caixas feitas por marceneiros nacionais, preservando apenas o mecanismo e o mostrador originais.


Mercado e Avaliação


Os relógios Comtoise continuam a ser procurados por coleccionadores, decoradores e entusiastas de relojoaria. O seu valor depende de diversos fatores:


Fatores que influenciam o valor:

  • Geração: os modelos das primeiras gerações (sécs. XVII–XVIII) são raríssimos e altamente valorizados.

  • Estado de conservação: peças completas e funcionais, com mostrador, friso, pêndulo e pesos originais.

  • Decoração: frisos com temas invulgares (soldados, santos, autómatos) são mais apreciados.

  • Proveniência: relógios com documentação ou histórico de proveniência bem estabelecido.


Preços médios (em Portugal):

  • Modelos comuns do séc. XIX: 500 € a 1 200 €

  • Exemplares com caixa completa restaurada: 1 500 € a 3 000 €

  • Primeiras gerações ou peças com autómatos: acima de 5.000 €

  • Peças museológicas: valor indefinido, dependente da raridade.


Curiosidades e Simbologia

  • O friso superior em latão era, por vezes, personalizado: camponeses mandavam gravar elementos simbólicos do seu ofício, foices, espigas, enxadas, ou cruzes.

  • Muitos relógios Comtoise tinham função de repetição dois minutos após a hora certa para facilitar a leitura no escuro ou em ambientes ruidosos.

  • Era comum, no século XIX, dizer-se que “uma casa sem relógio é uma casa sem palavra”, valorizando o carácter marcante e regulador da sonorização.

  • Durante a Guerra Franco-Prussiana (1870–71), surgiram modelos com frisos nacionalistas, galos, bandeiras e soldados, hoje raros e muito procurados.


Museus e Locais de Interesse


França


  • Musée de l’Horlogerie de Comtoise (Jura): dedicado à produção local de relógios e óculos, com uma das maiores colecções de Comtoise do mundo.

  • Musée du Temps (Besançon): instalado no Palácio Granvelle, exibe relógios, autómatos e instrumentos científicos franceses.


Espanha


  • Museo del Reloj (Jerez de la Frontera): contém exemplares Comtoise e peças ibéricas de influência francesa.

  • Museu de la Tècnica de l’Empordà (Figueres): com colecção de relojoaria monumental, incluindo mecanismos do Jura.


Portugal


  • Museu Medeiros e Almeida: A Sala dos Relógios do museu exibe cerca de 200 peças da coleção, organizadas cronologicamente para ilustrar a evolução técnica e estética da relojoaria europeia.

  • Casa Museu Frederico de Freitas (Funchal): inclui vários relógios de parede europeus do séc. XIX.

  • Colecções particulares: como a da Marinha Grande, onde foi identificado um Comtoise com mais de 300 anos.

  • Feiras de antiguidades: como a de Estremoz ou de Santarém, onde surgem regularmente modelos Comtoise.



Restauro do relógio Comtoise do Salão Nobre da Câmara Municipa de Sernancelhe pelo IPR - Instituto Português de Relojoaria


A pedido do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Sernancelhe Carlos Manuel Ramos dos Santos foi reparado pelo IPR o relógio do Salão Nobre da autarquia. Esta é uma excelente forma de valorizar e conservar o património.


Ficha Técnica


Designação: Relógio Comtoise (também conhecido como Morez ou Morbier)

Origem: França, região do Jura (provavelmente Morez ou Morbier)

Datação aproximada: Segunda metade do século XIX (c. 1850–1890)



Relógio Comtoise da Autarquia de Sernancelhe, após manutenção no IPR
Relógio Comtoise da Autarquia de Sernancelhe, após manutenção no IPR

Características Gerais


  • Tipo: Relógio de parede ou embutido em caixa de madeira alta (relojoaria grossa camponesa)

  • Mecanismo:

    • Movimento de corda com pesos, com dois tambores (um para o tempo, outro para a sonorização)

    • Escape de âncora

    • Acoplamento de duas rodagens distintas: marcha e sonorização

  • Mostrador:

    • Esmalte branco sobre cobre

    • Algarismos romanos para as horas e arábicos no anel interior para os minutos (em intervalos de 5)

    • Dois orifícios de corda (um para cada função)

    • Ponteiros perfurados em estilo Louis XV

  • Calendário:

    • Escala para indicação do dia do mês, numerado de 1 a 31 no círculo superior do mostrador


Relógio Comtoise no Salão Nobre da Autarquia de Sernancelhe, após manutenção no IPR
Relógio Comtoise no Salão Nobre da Autarquia de Sernancelhe, após manutenção no IPR

Estética e Iconografia

  • Frontão em latão fundido e dourado (bronze patinado ou ormolu):

    • Representa uma cena religiosa ou educativa: figuras femininas em oração ou leitura, com crianças e cruz central

    • Estilo figurativo e simétrico, muito típico do gosto pós-1870, influenciado pelo espírito nacionalista e educativo pós-guerra franco-prussiana

  • Porta lateral em ferro forjado pintado de preto, com ornamentos geométricos embutidos (serve de acesso ao pêndulo)


Relógio Comtoise da Autarquia de Sernancelhe, após manutenção no IPR
Relógio Comtoise da Autarquia de Sernancelhe, após manutenção no IPR

Mecanismo

  • Roda de escape horizontal (tipo âncora)

  • Tambor com corda para peso

  • Rodas dentadas em latão

  • Barras de aço para estrutura das rodagens

  • Sonorização por martelo em sino



Relógio Comtoise do coleccionador José Campos

Sonorização

  • Repetição horária com possível meia hora (habitual nos Comtoise)

  • Algumas variantes desta época incluem repetição de 2 minutos (não confirmável sem vídeo)


Estado de conservação

  • Mostrador bem preservado, sem perdas de esmalte visíveis

  • Frontão completo, sem oxidação

  • Mecanismo com manutenção feita pelo IPR, limpo e funcional


Classificação

  • Categoria: Relojoaria Grossa Francesa

  • Subtipo: Comtoise de frontão figurativo

  • Funções: Horas, minutos, calendário do mês, sonorização

  • Estilo: Romântico / Eclético (pós-barroco camponês)

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