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Porquê estudar relojoaria?​

Atualizado: 10 de dez. de 2020


    Todos queremos ver tudo. Basta que alguém nos informe que está a esconder alguma coisa para que em nós cresça uma vontade descobrir o que é. Aliás, a melhor forma de suscitar interesse por alguma coisa é apenas não a mostrar a ninguém, dizendo que existe. Começa cedo. Quando somos crianças há um senhor que nunca ninguém vê, desce pela chaminé sem ninguém ver, voa num trenó cheio de guizos que nunca ninguém viu, a rena Rudolfo até tem um nariz brilhante que nunca ninguém viu e tem um saco com presentes para todos os meninos e meninas do mundo. Deve ser grande. Nunca ninguém o viu. Passamos a infância a tentar apanhá-lo em flagrante. Nunca ninguém o apanhou. Fizeram-se filmes, peças de teatro, canções sobre este momento. Que nunca aconteceu. Todos queremos ver tudo o que não podemos ver. 

    Crescemos e tornamo-nos adultos. Olhamos para o nosso relógio e vamos trabalhar. Quando olhamos para o nosso relógio sabemos que funciona com rodas dentadas, molas, parafusos, alavancas, pivots. Alguns de nós, até fomos para engenharia, para percebermos bem como funciona tudo no mundo. Não nos voltam a enganar! Saber tudo, porém, deve ser muito aborrecido. Por isso usamos relógios, nunca sabemos exactamente como funcionam os relógios. Muitos de nós, em criança abrimos e desmontámos o nosso relógio. Muito poucos o voltámos a montar com sucesso. O tempo para desmontar o nosso relógio, em adultos, escasseia, e a coragem também. Sobram-nos os relógios de esqueleto ou com  aqueles que deixam ver o turbilhão. O Chronomètre FB 1.1 da Ferdinand Berthoud até tem duas pequenas janelas laterais que permitem espreitar o movimento. Devíamos todos ser relojoeiros, não digo viver de arranjar relógios, digo estudar relojoaria, saber como funciona tudo num relógio. Não deve ser assim tão difícil. 

ESTUDAR

    Imagine que cada letra deste texto corresponde a uma peça, as possibilidades de recombinação não são infinitas, mas são muito elevadas. Com as letras deste texto, ou mesmo com as palavras, conseguimos facilmente fazer outro texto, sobre outro tema. Conhecer a mecânica das palavras demorou uns anos, mas não foi assim tão difícil, até chamamos primária à escola onde as aprendemos. E se fosse alguém fizesse um ensino básico para a relojoaria? Se com esse conhecimento começassem a recombinar peças e conhecimentos? Todos teríamos certamente uns pulsos mais felizes. O aumento da criatividade e da recombinação na relojoaria aumenta a curiosidade e devolve-nos ao melhor da infância. Todos queremos saber tudo o que se passa com as marcas principais, todos queremos saber tudo o que se passa com as marcas independentes, queremos saber tudo, não queremos que nos escondam nada. Pois bem, a melhor forma de saber tudo é parar de espreitar e começar a estudar.

MOVIMENTO E TRANSPARÊNCIA​

    Há um equilíbrio na exposição e na ocultação das coisas em que a nossa curiosidade é máxima. Um turbilhão suscita-nos muito mais curiosidade do que o mecanismo de escape comum. Normalmente há mais curiosidade acerca do funcionamento dos relógios mecânicos do que acerca do funcionamento dos relógios de quartzo. O Turbilhão é um mecanismo em esqueleto, conseguimos ver praticamente todas as peças, um mecanismo de quartzo é completamente opaco, apenas conseguimos ver os circuitos na face virada para nós, e sabemos que o que esconde não é muito diferente do que está à vista. Para além da transparência e opacidade há ainda o movimento, os mecanismos mecânicos movem-se, ao contrário dos de quartzo. Somos atraídos por movimento, ao ponto de até chamarmos ao mecanismo do relógio — o movimento, e queremos transparência. Queremos saber o que se esconde e olhamos para o que se move. 

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